terça-feira, 26 de maio de 2015

A Virada Cultural Paulista e a ocupação da Cidade

Botucatu recebeu no último final de semana a edição 2015 da Virada Cultural Paulista. Foi oferecido um bom cardápio, com diversas atrações de diferentes segmentos, como peças de teatro, apresentações musicais de gêneros variados, bem como um compilado de expressões culturais e culinárias da região (e fora dela).
Do ponto de vista do acesso à cultura, ao entretenimento e ao lazer foi um sucesso por si. Mas existe um benefício ainda maior, que via de regra é deixado de lado nas avaliações sobre o evento: a ocupação dos espaços e equipamentos públicos da cidade e suas consequências no que tange a convivência social.
Recentemente, o colega de jornalismo e docência João Guilherme D’Arcadia  escreveu um excelente artigo para a Revista do Comércio de Jaú, no qual refletia sobre a necessidade de as crianças e adolescentes ocuparem as ruas e espaços públicos da cidade para brincarem e se divertirem. O jornalista fez referência ao fato de que as casas têm se tornado, sobretudo por razões de segurança e outras características da urbanização, um refúgio comum às crianças e adolescentes, minando a convivência coletiva.
O mesmo raciocínio apresenta-se na vida adulta.
Cada vez mais as pessoas têm feito a opção pelo enclausuramento residencial, afastando-se do outro ou do mesmo, do diferente ou do igual, do inusitado ou do clichê, do confrontador ou do consonante. Enfim, a era moderna da urbanização tem afastado o indivíduo da própria sociedade e de sua diversidade.
E nesse sentido, a Vira Cultural tem proporcionado uma experiência há muito esquecida – a ocupação dos espaços públicos, mesmo durante a noite, mesmo com tanta diferença.
É interessante perceber o quanto o oferecimento de Cultura pode gerar de benefício no que diz respeito à convivência social, em apenas 24 horas de atrações.
Ruas cheias de diferenças. Espaços sociais ocupados. Cultura acessível.


Enfim, talvez essa perspectiva tenha de se tornar muito mais que uma ação da Administração Pública Estadual, mas uma Política Pública do âmbito Municipal.



domingo, 3 de maio de 2015

Internet possibilita fortalecimento do local e do comunitário



O desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, com ênfase na internet, tem mudado a forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas e com o outro, com a política, com o mercado, entre outras esferas da vida cotidiana.
Do ponto de vista da sociabilidade e do acesso às diferentes culturas ao redor do globo, a internet representou a abertura das portas e a ruptura das fronteiras, uma vez que a partir de um click se tornou possível às diversas sociedades estabelecerem trocas e difusões de conhecimentos e publicização das mais ricas experiências humanas.
Sob a ótica do mercado, as tecnologias da informação e da comunicação permitiram, em larga escala, o desenvolvimento de uma economia que não se limita às características do capitalismo industrial e aos paradigmas das relações mais tradicionais entre capital e trabalho. Em outras palavras, forjou novas dinâmicas às economias mundiais, como a flexibilidade e a ausência de limites territoriais.
Já no âmbito da política, a internet tem ocupado cada vez mais um lugar de destaque – seja a partir da perspectiva dos atores políticos, seja sob o ponto de vista da sociedade civil. Entre os benefícios mais fáceis de mensurar estão o aumento no número de canais de acesso às informações políticas, como blogs e sites, e os espaços de participação existentes em sites oficiais – como fóruns permanentes e consultas públicas disponibilizados nos sítios da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
E isso sem contar as inúmeras possibilidades proporcionadas pelos sites de redes sociais como o Facebook, que permite uma farta, e às vezes “farsa” (para fazer referência ao nosso querido interior de São Paulo), quantidade de informações e opiniões políticas.
Fato é que, para além desses benefícios já mencionados, as novas tecnologias da informação e da comunicação permitem o caminho contrário ao contexto da globalização. Na verdade, talvez seja essa a virtude mais notável da internet: possibilitar o fortalecimento do local e do comunitário.
A história da comunicação midiática nunca registrou um equipamento tão eficiente no oferecimento de espaços públicos de comunicação, interação e discussão sobre temas de interesse coletivo.
É fácil justificar essa afirmação. Basta que seja observado o fato de que os veículos de comunicação de massa de grande circulação e/ou audiência – como jornais, rádios e televisões – sempre privilegiam o âmbito nacional em detrimento do regional. Em outras esferas, o regional em detrimento do local; o local em detrimento do comunitário. E tudo isso sob o filtro das práticas profissionais e das forças políticas e econômicas presentes nesse contexto.
Por isso, é interessante e importante notar que a internet, muito mais que permitir o acesso “para fora”, possibilita o acesso “para dentro” dos mais escondidos recantos e aos menos representativos grupos sociais.
Em um contexto de limitação espacial de conteúdo e de influências políticas e econômicas sobre os veículos de comunicação de massa, é relevante compreender o universo de possibilidades de atuação da sociedade civil por meio da internet. E não da sociedade civil como um todo coeso, mas como partes quase infinitas repletas de especificidades.
Os espaços proporcionados pela internet têm o potencial de abrigar as mais diversas iniciativas no campo da cultura, da comunicação e da política. Têm uma virtual capacidade de atuar no fortalecimento da cultura local, das mobilizações sobre temáticas comunitárias e da participação popular.
Neste contexto, é claro que o acesso à internet se mostra como um novo fator de exclusão social – menos no Estado de São Paulo e mais nas regiões menos desenvolvidas do País. Porém, a questão mais fundamental é: na hipotética situação de acesso a todos, será que as comunidades estariam preparadas para aproveitar as suas potencialidades?
Portanto, mais que acesso, há que se ponderar a variável da competência para a utilização dos potenciais oferecidos pelas tecnologias da informação e da comunicação.

Ocorre que, para isso, é necessário muito mais que uma porta aberta para um universo de possibilidades globalizadas. É fundamental, na verdade, educação!

Mas, esse é um problema ainda maior...