quinta-feira, 8 de maio de 2014

A voz do povo nem sempre é a voz de Deus

A máxima de que “a voz do povo é a voz de Deus” não se aplica a todos os casos. Talvez apenas ao jogo democrático, já que esse regime político exige que o Poder resida nas mãos da própria população e que as decisões tomadas pelos representantes eleitos devam refletir o desejo da sociedade.
Mas isso não se aplica quando o assunto é Justiça.
Recentemente, o caso de linchamento público de uma mulher suspeita de ser sequestradora de crianças, ocorrido na cidade litorânea do Guarujá (SP), chocou o Brasil e trouxe à tona uma série de questões.
A vítima do linchamento foi confundida com uma sequestradora de crianças, a partir de uma foto publicada na página Guarujá Alerta, no site de relacionamentos Facebook. Confundida na rua, essa mulher foi cruelmente espancada até a morte.
Esse caso, além de hediondo, serve de alerta à sociedade sobre duas questões em especial: o risco e influência dos sites de redes sociais na internet e o perigo da lógica da “justiça com as próprias mãos”.
É importante que seja discutida a amplitude das comunicações realizadas por meio de espaços de interação na internet. Não apenas a amplitude, mas principalmente seus riscos, influência e responsabilidade na postagem e interpretação das informações disponíveis.
É relevante notar que a partir da página de um site de redes sociais um grupo de pessoas acreditou ter encontrado uma mulher que, se fosse confirmada a acusação, mereceria as mais duras penas “DA LEI”. E isso seria positivo, se não tivesse sido extrapolada a função da sociedade.
Caso a população tivesse utilizado a plataforma tecnológica para encontrar, paralisar, chamar a Polícia e prender a suspeita (até que os fatos fossem apurados), seria uma vitória frente à criminalidade.
Ocorre que a sociedade (ou aquele grupo de pessoas), talvez, não tenha tido maturidade suficiente para entender que o auxílio da tecnologia e a possibilidade de justiça deveriam ter limite: justamente o limite da lei!!!
Evidentemente, há que se ponderar o contexto de violência com o qual a sociedade brasileira convive e do qual está certamente cansada e insatisfeita. Ocorre que isso não credencia os agressores, na verdade ninguém, a se tornarem justiceiros.
É direito de todo cidadão ter um julgamento justo e esse julgamento precisa ser realizado pelas instituições que possuem legalmente essas atribuições – ou seja, as instituições do Judiciário brasileiro.
Não é possível aceitar que, em pleno Estado de Direito, uma mulher (ou homem, tanto faz!!) seja punida pelo crime de parecer com uma sequestradora de crianças supostamente retrata em um site de redes sociais na internet.
Não é possível que a própria sociedade aceite que um cidadão, ou cidadã, seja acusado, julgado e condenado em praça pública, por pessoas não preparadas para isso e com a mais nociva violência. Infelizmente, neste caso, aqueles que tentaram promover a justiça se tornaram os verdadeiros criminosos!
Se o brasileiro está insatisfeito com seu Sistema Judiciário, ou com o Código Penal brasileiro, que lute pela mudança desses aspectos e não aja em prol da falência do Estado de Direito.
Novamente o foco se volta à política! Se a mudança é necessária, a escolha dos representes políticos adequados e responsáveis é fundamental. E aqui sim: a voz do povo será a voz de Deus!!