segunda-feira, 5 de maio de 2014

A triste e possível implantação da cultura do abuso sexual legítimo em Botucatu

A avalanche de denúncias de supostos abusos sexuais contra estudantes das faculdades da Unesp em Botucatu precisa preocupar cada vez mais as autoridades acadêmicas e policiais da Cidade.
Não apenas as autoridades acadêmicas e policiais devem ficar atentas, mas as autoridades locais e, principalmente, a comunidade botucatuense. Isso mesmo: todo cidadão ou organização da sociedade civil precisa se envolver de alguma forma contra esse tipo de prática criminosa.
Isso porque, o que está em jogo não são apenas casos isolados de abusos contra estudantes possivelmente embriagadas participantes de festas universitárias, mas a formação (ou consolidação) de uma cultura de banalização do estupro de pessoas que não estão com o controle de suas ações.
Não sejamos hipócritas, caros leitores/internautas, em afirmar que as estudantes estariam embriagadas e, por isso, envolvidas em um contexto que permitiria o ato do abuso. Também não sejamos porcos o suficiente para afirmarmos que um “tal espaço de bêbado não tem dono”, pois tem sim.
Não é possível admitir que a sociedade passe a condescender com a violência contra alguém que não esteja em seu juízo perfeito. Caso essa afirmação seja válida, quaisquer pessoas que não estejam em plenas faculdades mentais, por consumo de substâncias lícitas ou ilícitas, ou ainda por questões patológicas, poderiam ser vítima de abuso sem constrangimentos por parte do abusador.
E haverá quem aponte que as estudantes beberam porque quiseram, sem que seja ponderado o fato de o consumo de álcool ser permitido pelo Estado e nem refletirem sobre a possibilidade de estudantes serem constrangidas a beberem por outros em trotes agressivos e violentos!!!
Consumir bebidas alcoólicas é permitido!!! O que não é permitido é violar a privacidade e a intimidade alheia!!!
O consumo de álcool não é o centro do problema, apesar de em excesso fazer parte, sim, do problema. O centro da questão é o sentimento de impunidade e consolidação (ou reforço) da imagem da mulher-objeto para a satisfação dos prazeres masculinos. Uma relação entre Opressor e Oprimido – nas falas de Paulo Freire.
Isso mesmo, o fato de, possivelmente, existirem casos de práticas de abusos contra estudantes de uma das principais universidades do Brasil, por estudantes dessa mesma universidade, denota a triste e preocupante formação de uma cultura de permissão do estupro.
Levando em consideração o contexto social em que vítima e agressor vivenciam, a questão se aprofunda. Trata-se de pessoas instruídas, com poder aquisitivo certamente confortável ou suficiente, supostamente integrante da elite intelectual paulista, que desconsideram a vulnerabilidade de uma colega.
Não é isso que o Estado deve financiar!! Não é esse tipo de pessoa que deve se alvo dos investimentos financeiros da Universidade e receber um diploma de peso e destaque no cenário acadêmico e profissional. Não é esse tipo de retorno que a sociedade espera da formação universitária.
É fato que a Unesp de Botucatu tem se movimentado sobre essa questão, já há alguns anos, com a criação de canais para denúncias contra trotes violentos. Também é verdade que as autoridades policiais, em especial a Delegacia da Mulher, tem se mostrado aparentemente aberta ao acolhimento de denúncias.
Entretanto, é necessário mais!! É necessário o envolvimento do Município nesse caso.  É importante a sociedade civil organizada seja chamada ao debate interior da universidade!!
É necessária a construção de uma rede municipal, inter-instituições, que possa mostrar e intimidar as bestas-feras abusadoras universitárias (do sexo masculino) que existe, ou está em processo de consolidação, uma cultura de abominação ao abuso sexual.

A cidade precisa agir rapidamente, antes que ocorra a triste e possível implantação da cultura do abuso sexual legítimo em Botucatu...