A avalanche de
denúncias de supostos abusos sexuais contra estudantes das faculdades da Unesp
em Botucatu precisa preocupar cada vez mais as autoridades acadêmicas e
policiais da Cidade.
Não apenas as
autoridades acadêmicas e policiais devem ficar atentas, mas as autoridades
locais e, principalmente, a comunidade botucatuense. Isso mesmo: todo cidadão
ou organização da sociedade civil precisa se envolver de alguma forma contra
esse tipo de prática criminosa.
Isso porque, o que está
em jogo não são apenas casos isolados de abusos contra estudantes possivelmente
embriagadas participantes de festas universitárias, mas a formação (ou
consolidação) de uma cultura de banalização do estupro de pessoas que não estão
com o controle de suas ações.
Não sejamos hipócritas,
caros leitores/internautas, em afirmar que as estudantes estariam embriagadas
e, por isso, envolvidas em um contexto que permitiria o ato do abuso. Também
não sejamos porcos o suficiente para afirmarmos que um “tal espaço de bêbado
não tem dono”, pois tem sim.
Não é possível admitir
que a sociedade passe a condescender com a violência contra alguém que não
esteja em seu juízo perfeito. Caso essa afirmação seja válida, quaisquer
pessoas que não estejam em plenas faculdades mentais, por consumo de
substâncias lícitas ou ilícitas, ou ainda por questões patológicas, poderiam
ser vítima de abuso sem constrangimentos por parte do abusador.
E haverá quem aponte
que as estudantes beberam porque quiseram, sem que seja ponderado o fato de o
consumo de álcool ser permitido pelo Estado e nem refletirem sobre a
possibilidade de estudantes serem constrangidas a beberem por outros em trotes
agressivos e violentos!!!
Consumir bebidas
alcoólicas é permitido!!! O que não é permitido é violar a privacidade e a
intimidade alheia!!!
O consumo de álcool não
é o centro do problema, apesar de em excesso fazer parte, sim, do problema. O
centro da questão é o sentimento de impunidade e consolidação (ou reforço) da
imagem da mulher-objeto para a satisfação dos prazeres masculinos. Uma relação
entre Opressor e Oprimido – nas falas de Paulo Freire.
Isso mesmo, o fato de,
possivelmente, existirem casos de práticas de abusos contra estudantes de uma
das principais universidades do Brasil, por estudantes dessa mesma
universidade, denota a triste e preocupante formação de uma cultura de
permissão do estupro.
Levando em consideração
o contexto social em que vítima e agressor vivenciam, a questão se aprofunda.
Trata-se de pessoas instruídas, com poder aquisitivo certamente confortável ou
suficiente, supostamente integrante da elite intelectual paulista, que
desconsideram a vulnerabilidade de uma colega.
Não é isso que o Estado
deve financiar!! Não é esse tipo de pessoa que deve se alvo dos investimentos
financeiros da Universidade e receber um diploma de peso e destaque no cenário
acadêmico e profissional. Não é esse tipo de retorno que a sociedade espera da
formação universitária.
É fato que a Unesp de
Botucatu tem se movimentado sobre essa questão, já há alguns anos, com a
criação de canais para denúncias contra trotes violentos. Também é verdade que
as autoridades policiais, em especial a Delegacia da Mulher, tem se mostrado
aparentemente aberta ao acolhimento de denúncias.
Entretanto, é
necessário mais!! É necessário o envolvimento do Município nesse caso. É importante a sociedade civil organizada
seja chamada ao debate interior da universidade!!
É necessária a
construção de uma rede municipal, inter-instituições, que possa mostrar e
intimidar as bestas-feras abusadoras universitárias (do sexo masculino) que existe,
ou está em processo de consolidação, uma cultura de abominação ao abuso sexual.
A cidade precisa agir
rapidamente, antes que ocorra a triste e possível implantação da cultura do
abuso sexual legítimo em Botucatu...