A notícia de que o
Sistema Cantareira atingiu 8,9% de sua capacidade de armazenamento de água na
manhã de domingo (11) é assustadora. A informação foi divulgada pela própria Companhia
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Apenas para se ter uma
ideia do problema, para quem ainda não sabe, o Sistema Cantareira é o maior dos
sistemas administrados pela Sabesp (um dos maiores do mundo) e é destinado à
captação e ao tratamento de água para uma pequena região metropolitana, com um parco
número de pessoas – parte da Grande São Paulo, com cerca de 8,8 milhões de
contribuintes.
A ausência de chuvas
para reabastecimento do reservatório paulista é, realmente, um fator
determinante. Mas será que isso explica os motivos de esse reservatório estar
com menos de 10% de sua capacidade? Certamente não.
O que é certo é que os
moradores da região abastecida pelo Sistema Cantareira hoje fazem às vezes de “marido
traído”. Isso mesmo: os últimos a saberem.
Pense, caro leitor/internauta:
um dos maiores sistemas de captação de água do mundo não deve ter perdido seu
volume de uma hora para outra, certo? Certo!
Entretanto, apesar de
essa situação não ter ocorrido da noite para o dia, as autoridades
públicas estaduais apenas escancararam o problema quando as coisas fugiram do
controle, ou seja, quando o racionamento de água em algumas localidades já está
em voga.
E mesmo quando o
problema é escancarado, a solução parece ser jogada nas costas da própria
população, com ‘incentivo’ a quem economize água nos próximos meses.
E se algum sofista afirmar,
rapidamente, que o Governo do Estado se mobilizou para viabilizar obras para
captação do volume morto do Sistema Cantareira (aqueles litros que os dutos não
captavam, os últimos 8,5%), só se pode lamentar.
Lamentar por acreditar
que apagar incêndio é o mesmo que Política Pública.
A lição que se tira
desse episódio, que ainda está longe de acabar, é a necessidade de a sociedade
civil cobrar o desenvolvimento de Políticas Públicas que garantam o uso
racional dos recursos naturais, seja por parte do Governo, seja por parte da própria
população.
Seria importante, e de
alta capacidade educativa, que esse sistema de incentivo ao cidadão que
utilizasse menos água em seu cotidiano fosse instituído ANTES que o
racionamento fosse iminente (e qualquer outra atitude sustentável, como a
reciclagem). Também seria interessante que outras políticas e obras fossem
realizadas para prevenir o esgotamento do Sistema Cantareira e de outros
sistemas por aí (que ainda não estão em estado crítico, mas podem chegar a isso!).
Mas, não!!! Parece
padrão dos Governos brasileiros trabalharem para resolver e não prevenir problemas,
independentemente dos níveis federativos ou partidos políticos.
Entre os desastres dessa perspectiva está o
fato de a resolução dos problemas ser sempre mais cara do que a prevenção – seja,
financeira, social ou ambientalmente.
Talvez falte aos Governos
brasileiros a observação mais atenta dos debates desenvolvidos pelos diferentes
setores da sociedade, neste caso, das associações e organizações não
governamentais que lidam com a temática do Meio Ambiente. Talvez também falte o
acompanhamento da produção acadêmica produzida pelas Universidades públicas e
privadas do Estado de São Paulo.
Ou, talvez, falte apenas
vontade política para focar esforços em ações de prevenção que, infelizmente,
não tendem a oferecer dividendos eleitorais.
É necessário, portanto,
que cada região do Estado de São Paulo se antecipe e comece (ou permaneça) a
discutir exaustivamente as Políticas Públicas do setor de Meio Ambiente.
Fato é que, certamente,
os pejorativamente denominados Ecochatos ou Biodesagradáveis estavam corretos e
que a água potável realmente pode acabar, mesmo na Terra da Garoa!!! Na
verdade, muito antes do que se imaginava.