segunda-feira, 12 de maio de 2014

Estariam certos os Ecochatos e Biodesagradáveis?

A notícia de que o Sistema Cantareira atingiu 8,9% de sua capacidade de armazenamento de água na manhã de domingo (11) é assustadora. A informação foi divulgada pela própria Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Apenas para se ter uma ideia do problema, para quem ainda não sabe, o Sistema Cantareira é o maior dos sistemas administrados pela Sabesp (um dos maiores do mundo) e é destinado à captação e ao tratamento de água para uma pequena região metropolitana, com um parco número de pessoas – parte da Grande São Paulo, com cerca de 8,8 milhões de contribuintes.
A ausência de chuvas para reabastecimento do reservatório paulista é, realmente, um fator determinante. Mas será que isso explica os motivos de esse reservatório estar com menos de 10% de sua capacidade? Certamente não.
O que é certo é que os moradores da região abastecida pelo Sistema Cantareira hoje fazem às vezes de “marido traído”. Isso mesmo: os últimos a saberem.
Pense, caro leitor/internauta: um dos maiores sistemas de captação de água do mundo não deve ter perdido seu volume de uma hora para outra, certo? Certo!
Entretanto, apesar de essa situação não ter ocorrido da noite para o dia, as autoridades públicas estaduais apenas escancararam o problema quando as coisas fugiram do controle, ou seja, quando o racionamento de água em algumas localidades já está em voga.
E mesmo quando o problema é escancarado, a solução parece ser jogada nas costas da própria população, com ‘incentivo’ a quem economize água nos próximos meses.
E se algum sofista afirmar, rapidamente, que o Governo do Estado se mobilizou para viabilizar obras para captação do volume morto do Sistema Cantareira (aqueles litros que os dutos não captavam, os últimos 8,5%), só se pode lamentar.
Lamentar por acreditar que apagar incêndio é o mesmo que Política Pública.
A lição que se tira desse episódio, que ainda está longe de acabar, é a necessidade de a sociedade civil cobrar o desenvolvimento de Políticas Públicas que garantam o uso racional dos recursos naturais, seja por parte do Governo, seja por parte da própria população.
Seria importante, e de alta capacidade educativa, que esse sistema de incentivo ao cidadão que utilizasse menos água em seu cotidiano fosse instituído ANTES que o racionamento fosse iminente (e qualquer outra atitude sustentável, como a reciclagem). Também seria interessante que outras políticas e obras fossem realizadas para prevenir o esgotamento do Sistema Cantareira e de outros sistemas por aí (que ainda não estão em estado crítico, mas podem chegar a isso!).
Mas, não!!! Parece padrão dos Governos brasileiros trabalharem para resolver e não prevenir problemas, independentemente dos níveis federativos ou partidos políticos.
 Entre os desastres dessa perspectiva está o fato de a resolução dos problemas ser sempre mais cara do que a prevenção – seja, financeira, social ou ambientalmente.
Talvez falte aos Governos brasileiros a observação mais atenta dos debates desenvolvidos pelos diferentes setores da sociedade, neste caso, das associações e organizações não governamentais que lidam com a temática do Meio Ambiente. Talvez também falte o acompanhamento da produção acadêmica produzida pelas Universidades públicas e privadas do Estado de São Paulo.
Ou, talvez, falte apenas vontade política para focar esforços em ações de prevenção que, infelizmente, não tendem a oferecer dividendos eleitorais.
É necessário, portanto, que cada região do Estado de São Paulo se antecipe e comece (ou permaneça) a discutir exaustivamente as Políticas Públicas do setor de Meio Ambiente.

Fato é que, certamente, os pejorativamente denominados Ecochatos ou Biodesagradáveis estavam corretos e que a água potável realmente pode acabar, mesmo na Terra da Garoa!!! Na verdade, muito antes do que se imaginava.